A Zé tem um carro novo. O outro deu o berro e ela teve de comprar um novo. Endividou-se até às orelhas, mas teve de ser. É a vida. Quando se tem uma família grande - mães, sogras, filhos, maridos, irmãos, cunhados - para transportar e se mora a 367 quilómetros do trabalho e a dita família não pára um segundo para contemplar o pôr-do-sol, não há nada a fazer. O carro morreu, viva o carro. Até aqui tudo bem. O problema é que a Zé é uma pessoa, como dizê-lo?, um pouco sentimental. Vai daí, sente coisas por objectos inanimados. Como os carros. Coisas fortes e intensas. Pela minha saudinha. Foi, por isso, bastante difícil despedir-se da viatura falecida. "Chorei muito", disse ela no dia da separação. "Falei com ele [com o carro] e disse-lhe que ia ter muitas saudades dele, mas que um dia ainda havíamos de nos reencontrar."
E pronto. A man has to what a man has to do. Mulher e máquina, cúmplices durante oito anos, separaram-se corajosamente, partindo cada uma rumo a uma nova vida.
Vem o carro novo. E ela: "Falei com ele [com o carro] e disse-lhe que ia aprender a gostar dele com o tempo. É como os namorados (??). Depois a minha sogra trouxe-me um saco vermelho com uns alhos."
Hein?
Isso mesmo. Um saco vermelho - "que ela tricotou" - com meia dúzia de dentes de alho. Para "afastar os maus-olhados". "Mas os alhos têm de ser meus, tenho de ser eu a comprá-los."
...
(Quatro pessoas a olhar para ela, em silêncio, esbugalhadas, atónitas, assombradas, boquiabertas, perplexas, abismadas.)
"Se, daqui a uns tempos, os alhos estiverem mirrados é porque alguém lançou um mau-olhado. Eu já vi alhos assim e aquilo assusta."
O que é que vos posso dizer acerca da Zé? Ela não é totalmente flipada. É mais para o emotiva. A Protecção de Menores nunca lhe tentou tirar os filhos, nem nada. Apesar dos alhos no saco vermelho. Até agora tem corrido tudo bem.
8 de janeiro de 2009
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3 comentários:
...esta é a Zé q eu conheço???
Pelos vistos n conheço...
LINDO!!!!
Ela é uma caixinhas de surpresas.
Bem-vindo a esta humilde casa.
DUas palavrinhas apenas: me do
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