Continuo, com todas as minhas forças, toda a minha alma, todo o meu ser, toda a minha essência, a odiar ir ao dentista. Pior: eu abomino ir ao dentista. O dentista é mau. O dentista faz doer. O dentista faz chorar. O dentista faz-nos fazer coisas tão estranhas como rezar. O dentista está ali, todo ufano, na sua cadeira, a perguntar: «está a doer?». Não, meu, isto sou eu com espasmos. E estas lágrimas que me escorrem pela cara abaixo são as poeiras do consultório, sou alérgica às poeiras.
O dentista tem maus dentes, porque, como é óbvio, o dentista não vai ao dentista, que ele sabe muito bem o que o espera.
Tinha consulta marcada para hoje. E ainda me custa falar disso.
Depois da sessão de tortura, tive de ir à farmácia, aviar a receita que o dentista passou. Ainda tremia, não conseguia falar por causa da anestesia (sim, fui anestesiada, que o dentista não é um talhante desumano, ele é bonzinho), um frio do cacete, as velhinhas felizes por irem comprar medicamentos à farmácia e eu a pensar por que raio dói tanto ir ao dentista. Estava ali, à espera, toda frágil, e começa a dar aquela música muito pirosa dos Europe, Caaarrie, e começo a sentir os olhos cheios de água. É um momento mesmo deprimente. E as velhinhas demoram-se muito.
A farmacêutica atende-me, dá-me os comprimidos, explica-me a toma e deseja-me as melhoras. Estava tão zonza que lhe respondi «igualmente».
E depois tive de ir levar o carro ao mecânico. Não sei porquê, desconfio que por ter sido sujeita a maus-tratos dentais, perdi-me no caminho e fui dar ao subúrbio de Alfragide, a uma zona cheia de prédios modernos - daqueles com aquecimento central e vídeo-porteiro, aposto - sem uma única coisa bonita à volta e a abarrotar de letreiros a dizer vende-se. É então que começa a chover e eu penso é o fim da macacada, fico-me já aqui numa choradeira desenfreada.
Entretanto, dou com o caminho, deixo a viatura no mecânico e vou a correr para o trabalho, que tenho muito que fazer e a vida não está para lamechices.
Mas, ó céus, daqui a oito dias tenho de lá voltar.
20 de janeiro de 2009
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
8 comentários:
Parece-me que isso é o resultado de algum tempinho sem visitar a sra, não?
Ó pááááá... Histórias de horror no dentista, até ver, não tenho.
No entanto, a minha solidariedade vai todinha para as emoções que a música na farmácia pode despertar.
A malta na adolescência era pobre e tinha um gravador de cassetes. Sim, porque a aparelhagem só apareceu lá por casa prái no 12.º ano. Ora, um primo bem-intencionado ofereceu uma gravação dos greatest hits dos meninos suecos cabeludos.
E o que é que se diz a uma mãe que bate à porta do quarto, entra, e depara com uma filha, habitualmente serena, debulhada em lágrimas ao som de: «Caarrrriiiieeee!!!!!»???
Os anos 80 andam em alta no campo das reminiscências, ai andam, andam...
E digo-te mais: o dentista é como a depilação, quanto mais tempo se está sem lá ir, mais dói.
Por que é que será? Porque eles são carniceiros!!!
A manteiga é cócó minhas meninas: CÓCÓ i tell you!!!
É, mas tu bem a comias, enquanto que nós, as que éramos verdadeiramente pobres, comíamos Planta. Fina!
A Planta é mal compreendida...
o subúrbio de Alfragide sem uma única coisa bonita à volta»!!!???
a menina há-de desculpar quem vive nesse sítio. ou melhor nem todos podemos viver em casas com cachet como a menina!!!
Enviar um comentário