Nada mais adequado do que revelar, em primeira-mão, os resultados da relevante sondagem sobre hábitos privados dentro da sala de cinema. Quisemos saber que gestos, que atitudes, que sentimentos vivem os nossos domingueiros assim que baixam as luzes da grande sala da vida a fingir. Choram? Pensam nos problemas? Enroscam-se nos amados? Transformam-se em heróis de quimera? Limitam-se a apreciar a película?
Não perguntámos se comem pipocas porque partimos do pressuposto de que não o fazem. Domingueiro que se preze não conspurca um momento de comunhão tão importante como o visionamento de um filme com tal comportamento. A pipoca é proibida, meus amigos. Principal e mormente porque a pipoca do cinema é uma pipoca doce e nós gostamos é de pipocas salgadas.
Bom, adiante. Comecemos pelos românticos. O grupo minoritário neste inquérito. Apenas cinco por cento confessa dar a mão ao seu homem no escurinho do cinema. Isto é, parece que a malta já não vai aos movies para namorar. Agora é cada um na sua cadeirinha, mãozitas em cima do colo e shiu que o filme está a começar. Estranho.
Depois, em segundo lugar (com dez por cento dos votos), empatados, os que pensam na vida e os que se esquecem da vida. Os que ficam a pensar nas encruzilhadas, nas contas, nas dificuldades, no almoço de amanhã e os que se transformam, já ali, no Homem-Aranha ou no Super-Homem. Até ao infinito e mais além.
Seguidamente, com 15 por cento dos votos, as madalenas, os sensíveis, os emocionados. Os que choram sem vergonha, que vergonha é roubar velhinhas e fugir aos impostos. Os que lavam a alma, os que aproveitam para chorar pelos amores estilhaçados e pela promessa que nunca mais se cumpre, os que choram a bom chorar. É bom, é saudável e ajuda a poupar umas massas valentes no psi. Eu apoio. Chato é os óculos ficarem todos embaciados.
E em primeiro lugar, uma verdadeira surpresa. Os objectivos. Quais fantasias, quais quê. Quais lamechices, quais quê. Quais romantismos, quais quê. A gente vai ao cinema porque a gente quer ver um filme. Ponto. Não há cá pão para malucos, nem nenhuma outra expressão idiota cujo significado não se percebe. No escurinho do cinema admira-se a película, não se faz mais nada, que foi para isso que paguei bilhete. Sim, senhor. Tudo bem. É uma opção. Cada um com as suas coisas. The end.
23 de fevereiro de 2009
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4 comentários:
ó pá, com a crisel a estalar, o guito do bilhete tem de ser bem aproveitadinho e não há cá perder planos, enquadramentos ou o fio à meada. Até porque as mãos nas mãos transpiram que se farta, pensar na vida já a gente pensa a toda a hora, nunca gostei de heróis - prefiro os vilões - e as minhas comoções são privadas, muito obrigada.
Agora... pipocas salgadas? Que raio de invenção é essa? Pipocas são doces, meladas, a deixarem as mãos e a boca peganhenta e a pedirem uma bebidazinha para desmoer. Concedo apenas num ponto: deviam ser extinguidas do escurinho e regiões adjacentes. Mas salgadas? Vade retro!
Blherc, é só o que eu te digo. Pipoca salgada é que é! Para depois lamber o sal todo que fica no prato. Nhami!
Mas nos cinemas já há pipocas salgadas. Olha, eu cá dou a mão, nas 3 ou 4 idas anuais dos dois ao cinema. E acho piada a isso da mão, por acaso acho.
Xanoca, tou contigo. Mão na mão é que é. Esse é o uso que se deve dar a uma das mãos. Com a outra segura-se o lenço da choradeira. Ora aí está.
Isso das pipocas salgadas no multiplex é que eu não sabia... É uma evolução.
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